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Manifesto de Luta em Prol da Eliminação da Violência contra as Mulheres

  • Foto do escritor: Natália Pierdoná
    Natália Pierdoná
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  • 3 min de leitura

Desde que eu iniciei o Mestrado em Psicologia, para estudar a temática da violência doméstica contra as mulheres, muitas pessoas me perguntam: Porque esse tema? Você passou por violência? Entretanto, confesso que essas perguntas me geram um certo espanto. Quer dizer que eu preciso passar por violência para me sensibilizar por um assunto que atravessa tantas de nós, mulheres, independentemente, da cor, da classe social, da situação de escolaridade ou religião? Sinceramente, tenho dificuldades em entender essa pergunta.

Vivemos em um país em que a cada 6 horas uma mulher é vítima de feminicídio, ou seja, 4 mulheres são assassinadas por dia, por serem mulheres. Esses dados são de 2024, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A palavra feminicídio é importante porque explicita que essas mulheres são mortas pelo simples fato de serem mulheres! Significa dizer que se elas não fossem mulheres, elas não seriam mortas. E mais do que isso. Feminicídio é um crime de ódio, motivado pelo gênero. Um crime contra os direitos humanos.

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E agora eu pergunto a você, mulher leitora: que idade você tinha quando percebeu que sofreu a primeira violência por ser mulher? Se você estranhou essa pergunta, sugiro que reavalie sua vida, pois eu te desafio a apontar uma mulher que você conheça, do seu convívio, que não tenha passado por nenhum tipo de violência na vida. Infelizmente, vivemos em uma sociedade patriarcal e machista, e nesse sentido, a violência está presente também como meio de manter a sociedade da forma que é, com os homens no poder.

No último final de semana, uma mulher de 31 anos foi morta em Santa Catarina, ao sair de casa a pé, de manhã cedo para ir a uma aula de natação. Ela não estava andando em uma rua escura a noite, não estava em um beco, não estava com roupa curta. Sabe qual a maior culpa que ela teve no crime que sofreu? Ser mulher! Sim, porque, indiscutivelmente, nascer mulher é um grande determinante de saúde (ou falta de saúde) no nosso mundo.

Não existe violência sem poder. A violência contra mulheres tem esse objetivo: mostrar que o mundo não é nosso, que nós, mulheres, devemos ficar em casa, que é o lugar mais seguro. Mas será mesmo? Não existe um lugar seguro para quem nasce mulher. A violência doméstica, perpetrada dentro de casa por parceiro ou ex-parceiro íntimo, segue sendo a mais mortal. 64% das mulheres assassinadas por feminicídio no Brasil, em 2024, foram mortas dentro de casa.

Hoje, 25 de novembro, é o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Violência contra Mulheres. Precisamos de um dia para lembrar a todos do óbvio: parem de nos matar!

E para isso acontecer, várias medidas precisam ser tomadas. Talvez a educação desde a infância seja uma grande possibilidade. Educar as crianças para que entendam que as mulheres não são objetos dos homens, e que devem ser respeitadas por serem seres humanos. Não é possível crescerem com pensamentos respeitosos, se as crianças forem criadas em uma sociedade cheia de estereótipos de gênero. Precisamos repensar a criação de crianças e adolescentes. Mas precisamos também de políticas publicas de qualidade. Já existem várias leis, e elas precisam ser cumpridas. Um homem autor de violência precisa ser punido devidamente. Mas só a punição não resolve, já que ele costuma sair e repetir o ciclo. É preciso que ele receba medidas socioeducativas para ter conversas que possibilitem que ele entenda outras formas de relacionamento, sem violência, e sem querer dominar sua companheira. E são necessárias muitas outras medidas a serem tomadas para que as violências contra as mulheres reduzam. Mas precisamos acreditar que é possível sim uma vida sem violência. 

Novamente, precisamos reafirmar que nossas vidas importam. Parem de nos matar!


Natália Pierdoná

Médica de Família e Comunidade

CRM-BA 49.032 / RQE 27.935


 
 
 

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