Mudanças climáticas, saúde planetária e o que você tem a ver com isso?
- Natália Pierdoná

- 14 de nov.
- 3 min de leitura
Está acontecendo a COP 30 em Belém-Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. Este é um importante evento em que muitos líderes mundiais se reúnem para debater sobre o futuro do nosso planeta, e como as decisões de agora podem impactar permanentemente o clima nos próximos anos. Entretanto, pode ser que você, uma pessoa comum, possa estar se perguntando: certo, mas o que eu tenho a ver com isso? Eu nunca sofri os efeitos das mudanças climáticas na minha vida. Será mesmo?
Existe um termo muito recente criado para falar sobre isso: a saúde planetária. Esse termo diz respeito a como para nós, seres humanos, termos saúde, nós precisamos estar em ambientes saudáveis, e precisamos ter uma natureza ao nosso redor saudável. Porque nós somos natureza, embora muitas vezes nos esqueçamos disso.

Há muitas mudanças climáticas acontecendo nesse momento, e que impactam na nossa saúde. Por exemplo, falando sobre as ondas de calor. Com as mudanças de temperatura, e com a falta de planos de adaptação climática na maioria das cidades brasileiras, muitas pessoas tem sofrido com as ondas de calor, que podem gerar insolação a depender das condições de vida e de trabalho das pessoas, pode gerar desidratação e até mesmo descompensações de problemas preexistentes do coração, como insuficiência cardíaca. O aumento da poluição do ar, que pode ser causado por fumaça de resíduos industriais, ou por poluição do escapamento dos veículos no trânsito, ou por queimadas e desmatamentos entre outros, pode liberar na atmosfera pequenas partículas que tem potencial de entrar nos pulmões pela respiração e desencadear crises de asma e bronquites ou pneumonias, bem como alergias respiratórias, pelo aumento dos alérgenos no ar. O material particulado fino é menor do que um fio de cabelo, e pode entrar nas hemácias na corrente sanguínea, se distribuir pelo corpo, e causar a longo prazo, doenças graves como o câncer.
Além disso, eventos climáticos extremos, como os que temos acompanhado acontecerem no Brasil no último ano, como as enchentes no Rio Grande do Sul, a Seca na Amazônia, e os tornados no Paraná, costumam desestabilizar todo sistema de saneamento básico e estrutura dos municípios. Dessa forma, o sistema de captação e distribuição da água fica danificado, e não é possível garantir a qualidade da água que as pessoas tem acesso. Assim, é comum o surgimento durante essas crises, de diarreias, gastroenterites e desnutrição. Além disso, com as chuvas em excesso e as enchentes, é comum surgirem doenças transmitidas pelo contato com água contaminada, como leptospirose, hepatites entre outras. Devido às mudanças climáticas, tem vários estudos que mostram como doenças como a malária e até mesmo a dengue, tem mudado seu padrão de transmissão e tem se tornado mais frequentes em regiões que antes não existiam casos.
Com a degradação ambiental, muitas vezes a população se vê forçada a migrar de cidade ou estado, as vezes até de país, em busca de um lugar com melhores condições ambientais para viver, como melhor acesso a água por exemplo. Isso pode levar a migrações forçadas e conflitos civis ou guerras. Se fizermos uma pesquisa rápida vamos descobrir que isso já está acontecendo.
Para finalizar, vamos imaginar o lado psicológico de quem vivenciou tudo isso. É comum pessoas que passaram por desastres ambientais ter perdido entes queridos, inclusive bichinhos de estimação e muitas vezes perdem suas casas e tudo o que era importante para si e que tinham acumulado ao longo de suas vidas. Ademais, além de perder suas casas, as vezes o cenário do local em que moravam muda tanto que não é mais possível reconhecer aquele bairro ou cidade em que a pessoa cresceu. Muitas pessoas vivenciam um processo de luto nesse período, e esse luto associado aos processos ambientais, tem nome: se chama luto ecológico. Além disso, existe o sofrimento e a angústia causadas pela percepção direta da crise climática. A medicina adora dar nomes e estabelecer diagnósticos, e para esse quadro, semelhante a um quadro depressivo, mas associado às mudanças climáticas, chama-se de Solastalgia. Para além, pode ser que você não tenha sofrido nada disso, mas fica muito ansioso pensando no futuro. Tem gente que não consegue nem assistir notícias, pois fica angustiado com a sensação de que o mundo está acabando, e com a sensação de impotência diante disso. Essa ansiedade tem nome: ecoansiedade.
É importante falar sobre tudo isso, e tem autores que defendem que estamos vivendo uma nova extinção em massa, assim como já aconteceu com os dinossauros, há milhares de anos atrás. Só que dessa vez, quem será extinto somos nós: os seres humanos. A terra possivelmente não vai acabar. Ela vai apenas se regenerar, e se livrar de quem a está adoecendo. Por isso, o objetivo deste texto é fazer refletir sobre como nós estamos sim, todos nós, sendo afetados direta ou indiretamente pelas mudanças e pela crise climática que está acontecendo no mundo.
Natália Pierdoná
Médica de Família e Comunidade
CRM-BA 49.032 | RQE 27.935



Comentários